Reflexão sobre o Tempo e Experiência
Outro dia, em um momento de reflexão, me esforcei, no intervalo entre uma baforada de um charuto e uns goles de whisky, a tentar entender sobre o tempo. Bastaram algumas baforadas e alguns goles — pequenos e mínimos, antes que alguém possa pensar e concluir de forma jocosa —, e alguns aspectos do raciocínio se tornaram bem claros, e ao mesmo tempo não tão lúcidos, em razão da complexidade do tema na evidência reflexiva.
Afinal de contas, o que é o Tempo? Um aliado? Um amigo? Um inimigo? Uma vibratória neutra?
Buscar na linha do tempo a identificação das causas dos sucessos e fracassos, por razões ocorridas no passado, ajuda? Define? Diagnostica? Dá a resolução para um futuro novo e melhor?
Caso seja essa a resposta, onde ele está, onde o encontramos? Passado, presente e futuro existem? Se o passado existe, por que, então, o presente pode se processar da mesma forma e fazer o futuro ser igual? Se o futuro é igual ao passado, então, o tempo é o mesmo??!! Confuso isso! E se o tempo for o mesmo, em tal caso, ele não varia, e se não varia, será que ele é um efetivo elemento de transformação e que tudo resolve?
Ah… Meu “Alonso Menendez” — charuto puro da nossa Bahia, pois estou sem $tempo$ para comprar um cubano — e meu “Black Label”… Por que fizeram isso comigo??!!
Comecei a concluir que o tempo ajuda a progredir, evoluir e pode, também, contribuir para estagnar.
Ora, afinal de contas, ele é o “Tempo”, soberano em todos os momentos e circunstâncias, seja o tempo que for.
Nesse exato momento pensei que estava perdendo tempo em pensar no tempo, mas ao olhar para o aceso “Alonso Menendez” e para o copo de whisky “on the rocks”, tive o incentivo em continuar a depositar um tempo na meditação. Muito bom curtir e pensar, pensei, e pensando, continuei.
Nesse momento de reflexão, parei de questionar e brigar com o tempo no que se refere ao conceito. Ao invés disso, busquei entendê-lo, tentando também identificar formas de aproveitamento dele como aliado para as realizações desejadas, e com otimismo, aproveitá-lo como um elemento prazeroso da vida.
Vagueando em pensamentos, pude concluir que o Tempo é casado com a Experiência.
Esta, que é esteio das nossas caminhadas por trilhas fáceis, difíceis, boas e ruins. Percebi que o Tempo e a Experiência são elementos fixos e decisivos para as nossas escolhas e ações, e que podem ser transformadores e “redirecionadores” dos caminhos futuros (novo tempo). Basta, no entanto, que saibamos usá-los e aplicá-los.
Nesse ponto, tive que dar uma pausa, pois notei que o charuto havia apagado e tive que acendê-lo novamente. Também percebi que a Nala (minha cadela) estava me olhando e pedindo com os olhos um “polenguinho” que ela tanto gosta, parei o raciocínio para pegar um e dar para ela.
Esse breve intervalo me remeteu a entender que, mesmo que estando em profundo tempo de concentração em um propósito, até de ordem reflexiva, eu necessitava de um momento de descontração e relaxamento para poder dar continuidade à tarefa de pensar no tempo.
Grande “Alonso Menendez”, grande Nala, não posso esquecer-me que estão ao meu entorno e preciso dedicar um tempo também para vocês. Então, perguntei para a Nala se havia gostado do “polenguinho”, e ela respondeu com um sorriso. Sorri de volta para ela. Ficamos felizes nesse pequeno espaço de tempo, o qual batizei com a expressão “lazer”.
Voltando ao exercício de pensar, me veio na mente um refrão do Odu Iwori Meji em que Orunmila expressa: “atando pequenos pedaços de cabos podemos constituir uma corda”.
E então me veio um questionamento: se estava refletindo sobre o tempo, então, qual o motivo de vir em minha mente a simbologia de uma corda fracionada?
E percebi que a resposta veio de forma simples, era necessário compreender o papel da esposa do tempo, a Sra. Experiência. Maravilha! Eis que se juntarmos as vivências das quais passamos, podemos criar modelos práticos melhores para as nossas organizações, planejamentos e atingimento dos objetivos. Assim, otimizamos o marido da Sra. Experiência, o Sr. Tempo. Muito bom! Pude concluir que podemos reduzir o tempo de espera para os acontecimentos do que almejamos.
Compreendi também que o Tempo tem família, esposa e filhos: a Sra. Experiência e os filhotes Empirismo e Pragmatismo, e que Orunmila é como um senhor do tempo, uma energia atemporal.
Nesse instante, voltei o olhar para o “Alonso Menendez”, já no final, olhei para o copo, já sem o precioso líquido “Black Label”, e pensei: por que não? Então, levantei e acendi outro puro baiano e pus outra dose no copo, voltei a sentar na mesma poltrona e chamei a Nala para ficar deitadinha mais perto de mim. Relaxando, voltei a pensar, mas desta feita sem querer refletir sobre as dúvidas, mas apenas sobre as certezas de que quem faz o tempo somos nós, pois, “quando sabemos, fazemos a hora, e não esperamos acontecer” (cópia de “Caminhando e Cantando” rsrs).
Com isso, tive a condição de perceber que o tempo é um grande malandro da vida. Ele tem esposa, filhos e casa, pois na realidade, ele mora dentro de nós, e somos nós que fazemos, criamos e manipulamos o tempo na sua casa junto com a esposa e filhos.
Nesse exato momento, percebi que o “Black Label” havia me abandonado, só deixou a garrafa para companhia. Mas, como quem tem cadela, fiel amiga, não caça com gato(a), virei meu rosto para a Nala e vi que ela com a patinha apontava para uma garrafa de vinho Reserva Chileno de uva Cabernet Sauvignon que estava ao lado direito da estante da sala, deitada atrás da impressora.
Fiquei surpreso ao perceber como um cadela pode ter uma visão tão apurada, de raio X mesmo, e também possuir o dom de ler os nossos pensamentos. Mas não quis me aprofundar nessa análise, pois esse é outro tema para reflexão. Saquei a rolha da garrafa, reservei a mesma para pôr no depósito de rolhas do barzinho da casa de Itaipuaçu, e iniciei o degustar desse precioso néctar milenar que é o vinho.
Pronto, novamente me veio a reflexão sobre o tempo na mente, e pude notar em raciocínio que os melhores vinhos são os envelhecidos.
De forma metafórica, degustar um bom vinho envelhecido é desfrutar da experiência e viver a maturidade do saber construir, levar e curtir a vida (o tempo, sua família e casa).
Dessa forma, pensei, para que me preocupar com o tempo, se o tempo está dentro de mim?
E, nesse exato momento, notei que a fumaça que saía da minha boca, na forma de pequenas rodelas as quais modelava e lançava no ar, criava um pequeno cenário de figuras que se dispersavam em espontâneas ilustrações, aromáticas, livres em se expandirem sem formas estilizadas forçadas. Percebi que ser dono do tempo e fazer concretizar é muito mais prazeroso do que ser escravo dele na espera do que possa eventualmente ocorrer.
Paz, leveza, certeza, coragem, fé, perseverança e segurança em fazer são conjuntas. O tempo, ele não para, portanto, não podemos deixar que se torne estagnado dentro de nós.
Se deixarmos o tempo paralisar e esmorecer no nosso âmago, a alegria e a felicidade de construir e conquistar também poderá sucumbir no nosso interior.
Resolvi parar com a reflexão nesse ponto. Constatei que foi bom refletir, porquanto percebi com exatidão que o tempo e sua família estão o tempo todo dentro de nós. Nós o criamos, nós o diminuímos e nós o expandimos conforme a nossa capacidade de pôr em prática o que desejamos. Isto exposto, decidi compartilhar com vocês minhas reflexões. E caso sejam elas, a princípio, estranhas, oriento que reservem um tempo, e com mais tempo, voltem a ler este texto sobre o tempo.
Iboru Iboya Iboshishe
Wladimir Bittencourt
Babalawo de Orunmila Otura Tiyu